Tenebrosa transação PTista na campanha eleitoral


Até agora, o desempenho eleitoral do PT nas maiores cidades do País tem sido um fiasco. De todas as capitais os candidatos da legenda só lideram em duas, Goiânia (GO) e Rio Branco (AC), nesse caso, empatado com o segundo colocado.
Enquanto isso, o Democratas está na frente, com folga, em Salvador (BA), com ACM Neto, em Fortaleza (CE), com Moroni Torgan, e Aracaju (SE), com o ex-governador João Alves.
Nesse cenário pouco estimulante ao petismo, só restou ao comandante do partido, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cancelar a maioria de seus compromissos no Nordeste e demais regiões do Brasil e se concentrar em uma única cidade: São Paulo.
O PT vai para o tudo ou nada no maior município brasileiro, nem que deixe um rastro de mortos pelo caminho. Qualquer coisa deve ser feita para eleger o ex-ministro da Educação, Fernando Haddad.
A moral petista municipal já havia sido fulminantemente alvejada quando Lula promoveu a famigerada aliança em São Paulo com o ex-governador paulista Paulo Maluf, que até então representava o antípoda político de tudo o que os integrantes do Partido dos Trabalhadores julgavam ser.
Em troca, o partido de Maluf, o PP, conseguiu a manutenção do Ministério das Cidades. Além disso, houve a nomeação do ministro da Pesca, Marcelo Crivella, quadro ligado à igreja universal, para atenuar a rejeição do eleitorado evangélico ao PT. O curioso é que Crivella é do mesmo partido do que Celso Rusomanno, o PRB.
É preciso lembrar que Lula também tentou o apoio do atual prefeito Gilberto Kassab, que (sem nenhum escrúpulo como é seu estilo) acenou, favoravelmente, à aliança até mudar de ideia e apoiar José Serra. Hoje, o prefeito do PSD é um dos maiores sacos de pancada da campanha petista, devido a sua baixa aprovação.
Agora, em um lance mais ousado, a senadora Marta Suplicy, até semana passada recalcitrante em apoiar Haddad, ganhou o Ministério da Cultura. Satisfeita com o presente, irá juntar suas combalidas forças à tarefa petista de dominar a capital. No dia de ontem, os brasileiros viram mais um caso explícito do tradicional “toma lá, dá cá”.
Comandado por Lula, o ato político foi ainda mais constrangedor por um detalhe que não passou despercebido a ninguém. Para Marta entrar no Ministério da Cultura, a cantora Ana Buarque de Hollanda precisou cair.
A queda de Ana de Hollanda foi um lance de humilhação em praça pública conduzido por Lula.
A passagem de Ana de Holanda como ministra também foi marcada por muitas polêmicas e ações de bajulação explícita a Lula. Por exemplo, a implantação de um memorial ao ex-presidente no centro de São Paulo. O servilismo não foi o suficiente para mantê-la no cargo.
O caso da entrada de Marta Suplicy no ministério também envolve uma quebra de promessa da presidente Dilma Rousseff, que se comprometeu a não se envolver em eleições onde houvesse mais de um candidato da base aliada concorrendo. No caso de São Paulo, Gabriel Chalita (PMDB) e o próprio Celso Russomano (PRB) são do grupo de apoio ao governo federal.
Por tanta ânsia de vitória, a qualquer preço, não surpreende ninguém que a campanha de Fernando Haddad seja a mais cara do Brasil, o dobro da de José Serra e o triplo do que gastou Russomanno.
Há muitas ironias amargas em todo esse troca-troca truculento de cargos. Ana Buarque de Hollanda é filha do historiador Sérgio Buarque de Holanda, um dos fundadores do PT e pensador que melhor diagnosticou o hábito brasileiro de utilizar o Estado para interesses meramente pessoais.
Ana de Holanda não caiu por eventual incompetência, mas pela política miúda. Nos governos petistas, ninguém é demitido apenas por ser mau gestor. Saiu por aquilo que seu pai criticou e que o PT aprendeu muito bem: a fisiologia.
E, como é mais do que sabido, Ana é irmã de Chico Buarque, compositor de Apesar de Você e de letras como Vai Passar, utilizada pelo procurador geral da República na denúncia do mensalão. De fato, a pátria continua subtraída em tenebrosas transações.

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