INFLAÇÃO ACIMA DA MÉDIA

Tudo indica que o Comitê de Política Monetária do Banco Central, Copom, quando terminar hoje a sua reunião de abril, anunciará um reajuste de 0,25 ponto percentual na taxa básica de juros, que passará dos atuais 11,25% para 11,50%. Se isso não acontecer, será surpresa. Se o aumento for de meio ponto percentual, para 11,75%, haverá ranger de dentes aqui e ali, mas o golpe será assimilado. Isso porque na pesquisa semanal Focus/BC, com as 100 principais instituições financeiras do País, a projeção do IPCA para 2008 ultrapassou, pela primeira vez, o índice da meta, que é de 4,50%, ficando em 4,66%. Ainda na Europa, o presidente Lula reafirmou a autonomia do Banco Central, lembrando que ele indica o presidente e os diretores, mas não se mete na política do BC. Foi mais adiante e explícito, disse que "o que está dando certo a gente não mexe", no caso, a política da autoridade monetária. Com efeito, para quem iniciou o governo com a Selic acima de 20% anuais, uma correção de rumo para espantar a inflação futura não parece algo tão excepcional. Porém, há controvérsias e muitas. As entidades empresariais dizem que nada justifica a elevação dos juros, pois a forte demanda atual é puxada pelo aumento da renda, dos empregos e do crediário facilitado e dos juros baixos. Pelo sim, pelo não, os bancos calibraram os juros dos famosos e hoje imprescindíveis cheques especiais de olho no reajuste da Selic, os quais passaram, na média, a marca de 8% ao mês, mesmo com a inflação do IPCA projetada nos citados 4,66% ao ano.De Washington e Nova Iorque, onde compareceu ao encontro do FMI e teve reuniões com agências de classificação de risco, Guido Mantega não deu palpites sobre a reunião do Copom, que terminará hoje. Os analistas das agências sinalizaram que o Peru e o Brasil estão na reta final para obterem o famoso investment grade, grau de investimento, apesar de o Brasil ainda precisar melhorar alguns indicadores macroeconômicos aqui e ali, mesmo em meio à turbulência financeira mundial. A situação de fato que temos é uma alta no preço dos alimentos, mas causada por motivos globalizados, não sendo culpa dos agropecuaristas nacionais. Há aumento do consumo por parte de populações pobres, o que é bom. Paradoxalmente, ao comerem mais, os pobres do planeta tiveram uma resposta cruel, com a famosa e jamais revogada lei da oferta e da procura, pois o preço da comida aumentou. O problema preocupa as Nações Unidas, o Banco Mundial, o presidente George Bush e Lula da Silva, o qual disse que a Força Aérea Brasileira levará ao Haiti toneladas de alimentos básicos. Tentará acalmar os famélicos pobres que, em um arroubo de violência, mataram um capitão, que não era brasileiro, da missão da ONU naquele país liderada pelo Brasil, o qual transportava, ironicamente, alimentos. No mais, o País vai bem, com investimentos chegando a 17% do PIB, embora a meta ideal seja de 24%, como ocorre em países economicamente iguais ao nosso. Confirmado o reajuste da Selic depois de muitos semestres em queda ou estabilizada, sobrará um gosto amargo. Não na boca, mas nos bolsos dos consumidores, dos industriais, dos ruralistas e dos varejistas em geral, pois a queda no consumo será inevitável. Enfim, o consolo que restará é o de que a inflação, realmente, é o mais injusto dos impostos, pois penaliza sempre mais os pobres. E inflação ninguém quer. Não além do centro da meta, que em 2008 é de 4,5%. Mas que seria bom manter os juros em 11,25% ou, supremo sonho, vê-los cair para 11%, lá isso seria.

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